História das Portas de Santo Antão

 


As Portas de Santo Antão têm elevada importância na história de Lisboa. A estrutura das Portas de Santo Antão podem-se ligar a descrições de cronistas, mas poucos são os elementos precisos de que dispomos no que respeita a morfologia e disposição relativa à rua. A principal informação é fornecida pelo “Tombo” de 1573. Há cinco seculos, Lisboa acabava no Rossio e não existia o Passeio Publico. Ao longo dessa zona, alguns Palácios, com as suas quintas e os seus jardins, a Norte, tirando o convento, pouca coisa existia, apenas hortas e pomares. O terreno da atual Avenida da Liberdade correspondia aos arrabaldes. A Rua das Portas de Santo Antão era o eixo de saída para Norte e esse chão de terra batida, chamavam os lisboetas “A Corredoura”, caminho para fora de muros, e por ser longo e poucos se aventuravam por ele a pé, deram-lhe igualmente o nome “A Carreira de Cavalos”. Como era saída da cidade, se incluiu o termo “Portas”, aqui ficava uma das portas da muralha de Lisboa. Em meados do seculo XV, talvez mesmo antes, existiu nesta porta um curral, onde se matava gado, o qual em 1464 era designado por “curral velho”, e perto dele e das portas, havia um chão reservado para o salgamento dos coiros dos animais mortos no dito curral. Tudo isto é comunicado pelo funcionário do Senado da Câmara, que no “Livro I de Emprazamentos”( Nº de ordem 32/2, fl. 68) consignou as condições onde se salgavam os coiros( Lisboa de Lés a Lés, volume III). O nome Santo Antão, vem de um mosteiro de frades dedicado a esse Santo, fundado em 1400. Mais tarde em 1539, os frades trocaram o convento com as freiras da “Anunciada”, cuja morada tradicional era o”Coleginho da Mouraria”. A troca de conventos foi autorizada por D. João III em 1538. O antigo convento de Santo Antão, passou a chamar-se convento da Anunciada. O nome de Santo Antão manteve-se nas portas da cidade. O convento foi destruído com o terramoto de 1755. A seguir ao convento da Anunciada, ficava o Palácio dos Andradas. O primeiro proprietário, Fernão Álvares de Andrada, foi conselheiro e tesoureiro-mor do Rei D. João III, a sua lápide funerária, encontrada nos escombros posteriores ao terramoto, está hoje no Museu do Carmo. A propriedade dos Andradas ocupava toda a vasta área da Rua das Portas de Santo Antão. Com o casamento da neta deste com o Conde da Ericeira, passou a casa a ser conhecida por Palácio dos Condes da Ericeira, igualmente destruído pelo terramoto. Quase um seculo depois, os terrenos foram ocupados por várias construções mais ou menos clandestinas até aos dias de hoje, Sede da EPAL, com entrada pela Av. Da Liberdade. Destes Condes da Ericeira deriva a toponímia da confluente Rua dos Condes, assim como o nome do futuro teatro, mais tarde, Cinema Condes. No muro delimitado dianteiro do lado das hortas e no traseiro do lado da cidade existiam duas portas ou postigos, um dos quais foi emparedado em 1625 para defesa da cidade. As Portas de Santo Antão eram ainda guarnecidas com duas torres simetricamente colocadas. No reinado de D. Manuel, as portas teriam sido restauradas em madeira (Livro III de D. Manuel, arquivo da CML). Existe outro registo de reconstrução por D. João IV em 1656, com uma antiga imagem de Santo Antão num nicho na parede exterior das portas. Tudo desapareceu em ruinas com o terramoto de 1755. Não restam vestígios de muros ou lápides, mas a rua manteve o seu topónimo teimosamente através dos seculos. (Foto da Rua das Portas de Santo Antão. Inicio do seculo XX, autor desconhecido)


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