Memórias e recordações da emigração portuguesa
O intenso movimento migratório nos anos 50 e 60
relacionou-se com o atraso do mundo rural onde o trabalho árduo rendia pouco.
Como a indústria não oferecia trabalho suficiente, muitos foram para a Europa
«a salto», para onde se ia também por razões políticas. Os movimentos
migratórios levaram ao crescimento urbano desordenado e as remessas dos
emigrantes ajudaram a equilibrar a balança comercial.
O atraso do mundo rural português provocou um intenso
movimento migratório das décadas de 50 e 60. Os baixos índices de produtividade
de um setor com 48% da população ativa na década de 50 (e 42% na de 60)
deviam-se ao atraso tecnológico, à falta de investimento e à manutenção da
estrutura da propriedade agrícola: a Norte predominavam os minifúndios com
culturas de autoconsumo, e a Sul os latifúndios, subaproveitados por patrões
absentistas que pagavam salários baixos aos camponeses
Apesar do árduo trabalho a agricultura produzia apenas
um terço da riqueza nacional e a sua produção, de cereais, batata e vinho, não
respondia às necessidades do consumo interno. Por isso, o II Plano de Fomento
(1959-64) reforçou a aposta do I Plano na maquinaria, adubos, herbicidas e
sementes selecionadas, mas procurou dinamizar as culturas do tomate, milho e
arroz, sobretudo no Alentejo onde se criaram novos planos de rega.
A resistência dos agricultores a estas medidas
provocou a falência do setor e aumentou o êxodo rural para as zonas urbanas,
que já vinha acontecendo desde os anos 50. Os migrantes procuravam emprego na
siderurgia, na metalomecânica, na petroquímica, nos adubos e na celulose. No
final da década aumentou o emprego devido aos investimentos estrangeiros e à
instalação das multinacionais em Portugal permitida pelo III Plano de Fomento
(1968-73).
O desenvolvimento da indústria não conseguia, no
entanto, absorver todos os que vinham do campo e os baixos salários levaram à
procura de outros caminhos. Houve quem migrasse para o «Portugal Ultramarino»
no âmbito dos planos de colonização interna, replicando aí as técnicas de
agricultura da metrópole. Mas a maior parte dos mais de dois milhões de
portugueses emigrou para a Europa para trabalhar nas obras de reconstrução do
pós-guerra.
A França e a Alemanha foram os principais destinos da
intensa emigração verificada nas décadas de 60 e inícios de 70 motivada não só
pelos motivos económicos acima referidos, mas também por motivos políticos ou
militares. Cerca de trinta por cento dos emigrantes fugiram para evitar serem
presos e torturados pela PIDE ou para escapar ao serviço militar obrigatório e
à guerra colonial.
A maior parte da emigração era ilegal, feita a «salto» com os «passadores», que se faziam pagar para ajudar a atravessar a fronteira sem recontros com a PIDE, a GNR, a Guarda Fiscal e/ou as autoridades espanholas. Para além dos riscos inerentes a ser apanhado, os emigrantes enfrentavam ainda a incerteza da vida no destino. Muitos foram os que viveram nas bidonvilles (bairros de lata), quer por ganharem pouco, quer por preferirem enviar dinheiro para as famílias que tinham deixado em Portugal.
Entre os principais efeitos dos movimentos migratórios
na realidade portuguesa contam-se o despovoamento do interior, o crescimento
desordenado das cidades e o aumento do setor terciário. Em 1970, três quartos
da população vivia em meios urbanos, sobretudo nos subúrbios, aglomerando-se os
mais pobres em bairros de lata. As infraestruturas de saúde, educação,
habitação, transportes e comunicação criadas pelo Plano Intercalar de Fomento
(1965-1967) não conseguiam resolver todos os problemas do crescimento urbano. A
vida nestes meios fez crescer o setor terciário, que passou a empregar 35% da
população ativa face aos 33% da indústria e aos 32% do setor primário.
A emigração provocou outros efeitos importantes em
Portugal: as remessas dos emigrantes contribuíram para dinamizar o mercado
interno, devido às compras das suas famílias, e para equilibrar a balança
comercial, pelo que Salazar legalizou a emigração no final dos anos 60. A
partir daí tornou-se hábito os emigrantes virem passar as férias às suas
aldeias e vilas, onde construíram casas. Os novos costumes que trouxeram
contribuíram para a mudança de mentalidades no interior.
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