Um pensamento sobre “Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade – SARL”
As Companhias Reunidas de Gás e Electricidade e a produção e distribuição de gás em Lisboa" traça a história do sector do gás até à década de 70 do século XX na cidade de Lisboa, atribuindo uma especial atenção ao estudo de uma das mais importantes empresas que exploraram a produção e a distribuição do gás em Portugal na primeira metade do século XX,as Companhias Reunidas de Gás e Electricidade.
Os autores aventuraram-se pelos territórios pouco
explorados da história da indústria do gás em Portugal, incidindo a sua
abordagem no estudo do passado do sector do gás na cidade de Lisboa, sítio onde
se aplica, pela primeira vez, em meados do século XIX, o gás à iluminação
pública.
Este estudo recua até ao aparecimento das
primeiras empresas que exploraram a produção e a distribuição do gás na cidade
de Lisboa, para mostrar como se construiu a rede de distribuição, como se
modernizou os processos de produção e como se diversificou a utilização dessa
fonte de energia. Apresenta, deste modo, uma análise sobre o funcionamento
dessas empresas, os serviços que desenvolveram, as relações que mantiveram com
outras entidades, as dificuldades e as tentativas para resolver os problemas
com os quais se depararam no decorrer da sua existência.
Os autores recorreram a diversas fontes
documentais para analisar as segunintes empresas e fábricas que exploraram,
desde os finais da segunda metade do século XIX, o sector do gás em Lisboa: a
Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás, a Companhia de Gás de Lisboa, as
fábricas de produção de gás de Belém e a da Matinha, as Companhias Reunidas Gás
e Electricidade (CRGE) Salienta-se que os autores dedicam especial atenção à
análise das CRGE dedicam, reconstituindo a sua história enquanto empresa que,
desde a sua constituição formal (em 1891), até ao fim da sua produção de gás,
assumiu um papel essencial no desenvolvimento deste sector, criando condições
para manter o consumo do gás quando, na década de 50 do século XX, a utilização
da energia eléctrica começa a ser preferida.
Neste âmbito, os autores abordam também a
actividade desenvolvida pelas CRGE para publicitar e consolidar a estrutura dos
consumos de gás assente a nível das suas aplicações domésticas. Apresentam,
assim, alguns dos anúncios, desenhos, montras, exposições, concursos, ofertas e
cartazes que foram criados e utilizados, desde 1925, como instrumentos e
campanhas de divulgação e comunicação na promoção do consumo doméstico do gás
por esta empresa.
Esta obra traça o caminho percorrido pelo sector
do gás até 1974 na cidade de Lisboa, analisando ainda as actividades de
marketing desenvolvidas para difundir as aplicações do gás em Portugal.
A EMPRESA PROPRIETÁRIA DA CENTRAL TEJO, A
COMPANHIAS REUNIDAS DE GÁS E ELECTRICIDADE, SOBREVIVEU ATÉ À NACIONALIZAÇÃO EM
1975 DR
COMPANHIAS
REUNIDAS DE GÁS E ELECTRICIDADE.
Companhias Reunidas Gas e Electricidade . Monumentos CRGE http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4306 |
Exemplos dos contratos
Por: Ana Cardoso de Matos, e outros
Na pré-história da EDP e da REN,
existiam 14 companhias e um país virado para a "hulha branca"
Portugal era, no princípio do século XX, um país fortemente dependente das
importações de carvão britânico, a chamada "hulha negra". Com as
paragens de fornecimento durante as guerras, a solução foi aproveitar o que
ficou conhecido como a "hulha branca": a força dos rios.
Uma breve história da electricidade, cá em Portugal
A assembleia geral da EDP que se realiza hoje vai marcar um passo decisivo
na vida da empresa. A alteração dos estatutos e a eleição dos novos órgãos
sociais, que vão a votos, são já uma porta aberta para a saída do Estado da
empresa. Quanto à REN, quando em breve se alienarem os últimos 11,1% que para
já ficam em mãos públicas, também a empresa que gere as redes de transporte de
electricidade e gás deixará de ter representantes do Governo.
O que agora fica para trás é uma história marcada pela forte presença do
Estado nos últimos 70 anos, décadas antes do nascimento da EDP.
Foi em 1944 que se deram alguns dos passos mais importantes para o que é
hoje a empresa de electricidade portuguesa. José Ferreira Dias Júnior,
subsecretário de Estado da Indústria e do Comércio, elaborou a Lei 2002,
conhecida como Lei da Electrificação Nacional, e lançou as bases do sistema
eléctrico português.
No livro A História da Energia, coordenado por Nuno Luís
Madureira, recorda-se que uma das premissas desta estratégia foi permitir a
exploração dos principais rios através de centrais hídricas, criadas pelo
Estado. Objectivo? Aumentar a utilização dos recursos próprios do país e diminuir
a dependência energética - uma preocupação já nessa altura.
Com efeito, desde o início do século que Portugal era fortemente dependente
das importações de carvão britânico. Foi a chamada "hulha negra", que
durante várias décadas alimentou muitas centrais eléctricas, recordam os
autores de A Electricidade em Portugal: dos Primórdios à II Guerra
Mundial, de Ana Cardoso Matos, Fátima Mendes, Fernando Faria e Luís Cruz.
Com as paragens no fornecimento de carvão durante as duas guerras mundiais,
os portugueses sentiram o preço dessa dependência. Mas, como o carvão português
tinha menos poder calorífero do que o britânico, não era um substituto à
altura. A solução foi aproveitar o que ficou conhecido como a "hulha
branca": a força dos rios.
Foi o que se passou na região de Lisboa, por exemplo. Durante muitas
décadas o carvão tinha sido o principal combustível da Central Tejo, onde
funciona hoje o Museu da Electricidade. Construída em 1909 pelas Companhias
Reunidas de Gás e Electricidade, a central só perdeu o papel de maior centro
produtor eléctrico em Lisboa, quando a barragem e a central hídrica de Castelo
de Bode começaram a funcionar, em 1951. Finalmente, as luzes de Lisboa passavam
a ser alimentadas a hidroelectricidade.
Seis anos antes, no seguimento da nova Lei da Electrificação Nacional, em
1945, tinham nascido a Hidroeléctrica do Cávado, para os rios Cávado e Rabagão,
e a Hidroeléctrica do Zêzere, as duas empresas de capitais públicos e privados,
que se lançam na construção de grandes barragens. Logo em 1951 entram em
funcionamento a central hidroeléctrica de Vila Nova (Cávado) e de Castelo do
Bode (Zêzere), que três anos depois já representavam mais de 50% da produção
eléctrica portuguesa. Os preços praticados por estas duas empresas
transformam-se também numa referência para a distribuição nacional, fragmentada
em dezenas de grandes, médias e pequenas concessionárias.
Nos anos 50, nascem ainda a Hidroeléctrica do Douro e a Empresa
Termoeléctrica Portuguesa - esta última viria a ser responsável pelos projectos
de importantes centrais térmicas, a carvão e a fuelóleo, que anos depois
entraram em funcionamento, como as centrais da Tapada do Outeiro (começou a
operar em 1959, em Gondomar), do Carregado (final dos anos 60, Alenquer) e
Tunes (1973, em Silves), indicam Jaime Ferreira e João Figueira, no livro A
Electrificação no Centro de Portugal no Século XX. Entretanto, a
"hulha branca" tinha continuado a ganhar força: sucederam-se as
centrais hidroeléctricas de Belver (1952), Salamonde (1953), Cabril (1954),
Bouçã e Caniçada (1955) e Paradela (1958).
"De cortar à faca"
A estratégia concebida por Ferreira Dias será também intervir no transporte
e distribuição de electricidade, pois só assim seria possível tirar proveito
das novas fontes de energia: em 1947 nasce a Companhia Nacional de
Electricidade (CNE), precursora da REN. À semelhança das sociedades
hidroeléctricas, também a nova empresa era uma sociedade de capitais públicos e
privados, mas com uma forte presença do Estado. Viria a tornar-se responsável
pela construção e concessão da rede de transporte de electricidade em alta
tensão, ligando as centrais produtoras às redes de distribuição, que, por sua
vez, levavam a energia eléctrica às empresas e a casa das pessoas.
Ficou também estabelecido que os operadores que utilizassem a nova rede de
transporte teriam de pagar "portagem". Nada contentes com a entrega
do transporte de electricidade apenas à CNE ficaram as empresas privadas, que
continuavam a ter um forte peso na distribuição e comércio de energia e não
queriam perder esses direitos. Muitas eram accionistas da própria CNE - como as
Companhias Reunidas de Gás e Electricidade, a União Eléctrica Portuguesa e a
Companhia Hidroeléctrica do Norte de Portugal. Não é de admirar que o ambiente
nas reuniões de administração fosse por isso "de cortar à faca", mas
o Estado, que era o accionista com maiores poderes, acabou por levar a melhor,
descrevem os autores de A História da Energia.
E as mudanças não ficaram por aqui. Anos depois, em 1969, as grandes
companhias que tinham sido criadas depois da Lei de Electrificação Nacional,
incluindo a CNE, fundem-se na Empresa Portuguesa de Electricidade, que passa a
dominar a produção eléctrica e o transporte de electricidade.
Ao mesmo tempo, uma grande parte do sector mantinha-se nas mãos de empresas
e municípios, fruto das dezenas de iniciativas avulsas que marcaram o
nascimento da energia eléctrica. Há pouco mais de 100 anos, a forma como muitas
localidades foram trocando o gás pela electricidade deveu-se às acções de
carácter local. Por iniciativa privada ou de municípios (o pioneiro foi
Coimbra), quando o número de utilizadores não era atractivo para as empresas,
foram-se construindo pequenas centrais de energia eléctrica. Muitas vezes, eram
as próprias fábricas que vendiam às câmaras os excedentes da electricidade que
produziam ou que criavam empresas para esse efeito.
Tomar, por exemplo, começou a ter iluminação pública com a compra dos
excedentes da produção eléctrica à Real Fábrica de Fiação. Em Elvas, logo em
1901, esse papel pertence à Companhia Elvense de Moagem, e em Reguengos de
Monsaraz à Moagem de António Rosado Caeiro. Em Famalicão, um caso curioso, a
electricidade chega pelas mãos da fábrica de relógios A Boa Reguladora.
Mário Mariano, na sua História da Electricidade, lembra
que um inquérito lançado em Portugal em 1928 veio revelar "um sistema
produtor eléctrico extremamente disperso, constituído por 395 centrais, das
quais apenas cinco de potência superior a 7000 cv".
As marcas da história também se notavam nas maiores cidades. No Porto,
durante muitas décadas era a câmara municipal que explorava a produção de
electricidade e a distribuição. Já em Lisboa, é de origem belga a maioria do
capital das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade, responsáveis pelas
primeiras iluminações públicas ainda no final do século XIX.
Esta empresa é uma das que viriam a sobreviver até à nacionalização, em
1975. No mesmo ano, por decreto publicado a 16 de Abril, também a Companhia
Portuguesa de Electricidade (de capitais mistos) e ainda outras 12 empresas
privadas, as maiores concessionárias na produção, distribuição e
comercialização, foram nacionalizadas. Entre estas contavam-se a Aliança
Eléctrica do Sul, a Companhia Eléctrica do Alentejo e do Algarve e a Companhia
Hidroeléctrica do Norte de Portugal.
Em 1976, a 30 de Junho, a fusão das 14 companhias deu origem à EDP, com o
objectivo de estabelecer e explorar o serviço público de produção, transporte e
distribuição de energia eléctrica no território do continente, para
"promover e satisfazer as exigências do desenvolvimento social e económico
de toda a população" (Decreto-Lei nº 502/76). Mas até ao final dos anos
1980 mantiveram-se ainda dezenas de pequenas sociedades e cooperativas,
municipais e privadas, que foram sendo integradas no novo grupo.
Energias de Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Energias_de_Portugal
Por: Inês Sequeira
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